Cidade de Goiás: história,
natureza e boa prosa
Ponte sobre o Rio Vermelho, que corta Goiás Velho. (Fotos: Fátima Afonso)
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Estive pela primeira vez na cidade de Goiás (GO) no final de 1998. Na época, ela pleiteava o título de Patrimônio Histórico da Humanidade, que acabou conseguindo em 2001. De lá pra cá, duas grandes enchentes – uma logo após o tombamento e outra em janeiro de 2011 – colocaram em risco muitas de suas construções históricas. Recentemente, voltei à região para uma nova visita e, para minha surpresa, me deparei com a mesma Goiás de 15 anos atrás: charmosa, acolhedora e exalando história em cada esquina.
A cidade, que nasceu como Arraial de Sant’Ana, foi fundada em 1727, por Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera. Doze anos depois, em 1739, passou a se chamar Villa-Bôa de Goyaz, em homenagem aos índios goyazes, seus primeiros habitantes. Por isso quem nasce em Goiás Velho – como também é conhecido o município – é vila-boense. Eis aí um adjetivo gentílico que eu jamais adivinharia.
O ponto turístico mais conhecido da cidade é, sem dúvida, a Casa da Ponte, onde viveu a doceira e poetisa Cora Coralina, que morreu em 1985, aos 95 anos. Embora escrevesse desde a juventude, Cora só teve seu primeiro livro publicado quando estava com 76 anos e, pela fama propriamente dita, ainda teve de esperar até os 90. Na Casa da Ponte, móveis, roupas e objetos pessoais contam um pouco da história da poetisa. Lamentavelmente – por causa do “direito de imagem”, segundo a guia local –, nada disso pode ser fotografado. Fico imaginando o que pensaria Cora dessa estranha proibição...
Além da Casa da Ponte, a cidade tem mais três museus. Na antiga Casa de Câmara e Cadeia está instalado o Museu das Bandeiras, onde podem ser vistos utensílios, pratarias, móveis e outros objetos dos séculos 18 e 19 e do início do século 20.
Casa da Ponte, onde morou a poetisa Cora Coralina.
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Além da Casa da Ponte, a cidade tem mais três museus. Na antiga Casa de Câmara e Cadeia está instalado o Museu das Bandeiras, onde podem ser vistos utensílios, pratarias, móveis e outros objetos dos séculos 18 e 19 e do início do século 20.
Museu das Bandeiras. |
O Palácio Conde dos Arcos, fundado em 1755, foi construído para ser a sede da Capitania de Goiás e residência do governador. Em 1937, com a transferência da capital do Estado para Goiânia, passou a abrigar a Prefeitura. Só em 1961 foi transformado em museu. Todos os anos, no aniversário do município – comemorado em 25 de julho –, Goiás volta, simbolicamente, a ser a capital do Estado e por três dias o governador e sua família se instalam no Palácio.
Museu de Arte Sacra. |
Igreja Nossa Senhora do Rosário. |
Além da rica história colonial, Goiás tem uma natureza privilegiadíssima, que começa no centro urbano e se estende até a Serra Dourada, cuja beleza é famosa na região. De lá saíam as areias coloridas – num total de 551 tonalidades – com que Goiandira do Couto, prima de Cora Coralina, fazia seus quadros.
Goiandira do Couto, em 1998. |
Na época, defini Goiandira como a figura-síntese da cidade: simpática, surpreendente e acolhedora. Essa, definitivamente, é a imagem que guardo tanto da pintora como da pequena Goiás – sempre de braços abertos para receber o visitante.
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Dicas de Viagem
- Goiás Velho fica a cerca de 140 km de Goiânia.
- Ponha na mala roupas e calçados confortáveis. A cidade deve ser visitada a pé.
- Para quem visita Goiás de segunda a sexta-feira, a grande dificuldade é encontrar um restaurante aberto. A maioria deles não abre e os que abrem fecham cedo. À noite, isso piora um pouco. De qualquer maneira, sempre é possível recorrer ao Bar do Primo, como fiz algumas vezes.
- Para visitar os principais pontos da Serra Dourada – um passeio imperdível –, é preciso disposição e certo preparo físico para enfrentar uma árdua caminhada, de cerca de 5 horas (ida e volta). Vá acompanhado de um guia, que pode ser indicado pelos hotéis. Na mochila, além de roupas e sapatos confortáveis, leve um boné, água, lanche, protetor solar e, claro, uma boa máquina fotográfica.
- Saia para passear sem pressa, com tempo para conversar com os moradores da cidade, sempre dispostos a uma boa prosa.
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