domingo, 7 de julho de 2013

Turismo


Cidade de Goiás: história,

natureza boa prosa


Ponte sobre o Rio Vermelho, que corta Goiás Velho.              (Fotos: Fátima Afonso)

Estive pela primeira vez na cidade de Goiás (GO) no final de 1998. Na época, ela pleiteava o título de Patrimônio Histórico da Humanidade, que acabou conseguindo em 2001. De lá pra cá, duas grandes enchentes – uma logo após o tombamento e outra em janeiro de 2011 – colocaram em risco muitas de suas construções históricas. Recentemente, voltei à região para uma nova visita e, para minha surpresa, me deparei com a mesma Goiás de 15 anos atrás: charmosa, acolhedora e exalando história em cada esquina.
A cidade, que nasceu como Arraial de Sant’Ana, foi fundada em 1727, por Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera. Doze anos depois, em 1739, passou a se chamar Villa-Bôa de Goyaz, em homenagem aos índios goyazes, seus primeiros habitantes. Por isso quem nasce em Goiás Velho – como também é conhecido o município – é vila-boense. Eis aí um adjetivo gentílico que eu jamais adivinharia.


Casa da Ponte, onde morou a poetisa Cora Coralina.
O ponto turístico mais conhecido da cidade é, sem dúvida, a Casa da Ponte, onde viveu a doceira e poetisa Cora Coralina, que morreu em 1985, aos 95 anos. Embora escrevesse desde a juventude, Cora só teve seu primeiro livro publicado quando estava com 76 anos e, pela fama propriamente dita, ainda teve de esperar até os 90. Na Casa da Ponte, móveis, roupas e objetos pessoais contam um pouco da história da poetisa. Lamentavelmente – por causa do “direito de imagem”, segundo a guia local –, nada disso pode ser fotografado. Fico imaginando o que pensaria Cora dessa estranha proibição...

Além da Casa da Ponte, a cidade tem mais três museus. Na antiga Casa de Câmara e Cadeia está instalado o Museu das Bandeiras, onde podem ser vistos utensílios, pratarias, móveis e outros objetos dos séculos 18 e 19 e do início do século 20.

Museu das Bandeiras.
 
O Palácio Conde dos Arcos, fundado em 1755, foi construído para ser a sede da Capitania de Goiás e residência do governador. Em 1937, com a transferência da capital do Estado para Goiânia, passou a abrigar a Prefeitura. Só em 1961 foi transformado em museu. Todos os anos, no aniversário do município – comemorado em 25 de julho –, Goiás volta, simbolicamente, a ser a capital do Estado e por três dias o governador e sua família se instalam no Palácio.
Museu de Arte Sacra.
Já o Museu de Arte Sacra fica na Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, que foi erguida em 1779 sobre os alicerces de uma das casas de Anhanguera. Ali podem ser vistas, entre outras, as obras do santeiro goiano Veiga Valle.
Igreja Nossa Senhora do Rosário.
As igrejas de Goiás Velho, ao contrário do que acontece em cidades como Ouro Preto (MG) e Salvador (BA), primam pela simplicidade e despojamento. A de Santa Bárbara, construída em adobe e blocos de pedra-sabão, é a que fica mais distante do centro histórico. Mesmo assim, pode-se chegar lá a pé. O maior esforço, na verdade, vem depois da caminhada: enfrentar uma escadaria de cerca de 50 degraus. Mas vale a pena: dali se tem uma das mais belas vistas da cidade.



A cidade vista da Igreja de Santa Bárbara.
Ao fundo, a Serra Dourada.
 
Além da rica história colonial, Goiás tem uma natureza privilegiadíssima, que começa no centro urbano e se estende até a Serra Dourada, cuja beleza é famosa na região. De lá saíam as areias coloridas – num total de 551 tonalidades – com que Goiandira do Couto, prima de Cora Coralina, fazia seus quadros.
Goiandira do Couto, em 1998.
Quando visitei a cidade pela primeira vez, a artista plástica – que faleceu em agosto de 2011 – já estava com mais de 80 anos. Mesmo assim, rotineiramente recebia os turistas em sua residência, não só para mostrar suas obras, mas também para trocar um dedo de prosa com cada um que ali chegasse.
Na época, defini Goiandira como a figura-síntese da cidade: simpática, surpreendente e acolhedora. Essa, definitivamente, é a imagem que guardo tanto da pintora como da pequena Goiás – sempre de braços abertos para receber o visitante.
 
 
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Dicas de Viagem

 
  • Goiás Velho fica a cerca de 140 km de Goiânia.
  • Ponha na mala roupas e calçados confortáveis. A cidade deve ser visitada a pé.
  • Para quem visita Goiás de segunda a sexta-feira, a grande dificuldade é encontrar um restaurante aberto. A maioria deles não abre e os que abrem fecham cedo. À noite, isso piora um pouco. De qualquer maneira, sempre é possível recorrer ao Bar do Primo, como fiz algumas vezes.
  • Para visitar os principais pontos da Serra Dourada – um passeio imperdível –, é preciso disposição e certo preparo físico para enfrentar uma árdua caminhada, de cerca de 5 horas (ida e volta). Vá acompanhado de um guia, que pode ser indicado pelos hotéis. Na mochila, além de roupas e sapatos confortáveis, leve um boné, água, lanche, protetor solar e, claro, uma boa máquina fotográfica.
  • Saia para passear sem pressa, com tempo para conversar com os moradores da cidade, sempre dispostos a uma boa prosa.